A Febre Hemorrágica da Crimeia-Congo (FHCC) é uma febre hemorrágica viral, geralmente transmitida por carraças.
A doença foi descrita, pela primeira vez, na Península da Crimeia em 1944, sendo nomeada de Febre Hemorrágica Crimeia. Em 1969 reconheceu-se que o agente patogénico que causava febre hemorrágica na Crimeia era o mesmo responsável por uma doença identificada em 1956 no Congo. A ligação dos dois nomes locais resultou no nome atual da doença e do vírus.
Perguntas e Respostas sobre a FHCC
1. O que é a FHCC?
A FHCC é uma doença zoonótica, causada pelo Nairovírus, transmitida por carraças, que se encontram distribuídas nas regiões com climas mais temperados e quentes. ´
2. Como é transmitida?
A doença pode ser transmitida por picada da carraça do género Hyalomma, nomeadamente pelas espécies Hyalomma lusitanicum e Hyalomma marginatum que existem na Península Ibérica.
Estas carraças podem ser encontradas em habitats como bosques, pastagens, charnecas e parques, preferencialmente em áreas quentes e húmidas de solo com cobertura de folhagem e erva alta. Agarram-se e fixam-se na pele de animais e do ser humano, durante vários dias em que picam o hospedeiro para se alimentarem de sangue.
Embora rara, pode ocorrer a transmissão através da exposição a sangue, tecidos e órgãos de animais infetados, em especial durante e imediatamente após o seu abate.
A transmissão entre humanos pode resultar do contacto próximo com sangue, secreções, órgãos ou outros fluidos corporais de pessoas infetadas.
3. Quem está em risco?
A maioria dos casos reportados tem ocorrido em pessoas envolvidas na indústria pecuária, incluindo trabalhadores agrícolas, talhantes, matadouros e veterinários, ou em pessoas que realizem atividades na natureza em zonas propícias ao risco de exposição a carraças.
Os profissionais de saúde que cuidam de doentes com suspeita ou confirmação de FHCC, ou que manuseiam amostras destes, devem implementar medidas adequadas de prevenção e controlo para reduzir o risco de exposição e de infeção nosocomial (adquirida ou que possa ocorrer num hospital).
Por medida de precaução, as pessoas que manuseiam os corpos de doentes falecidos por FHCC deverão utilizar equipamento de proteção individual e assegurar práticas seguras de enterro.
4. A doença pode ocorrer em Portugal?
Em Portugal, circulam carraças da espécie Hyalomma lusitanicum e Hyalomma marginatum que se encontram dispersas em diferentes municípios do país, conforme figura infra.
Desde 2013, a Rede de Vigilância de Vetores (REVIVE) mantém uma vigilância regular destas carraças, através da testagem para a deteção da presença do vírus da FHCC, o qual nunca foi detetado até ao momento.
Figura 1 - Distribuição nacional das espécies Hyalomma marginatum e Hyalomma lusitanicum – dados do REVIVE 2023
5. Quais os sinais e sintomas?
Após a infeção por picada de carraça, o período de incubação (entre a picada e o aparecimento dos primeiros sintomas) é geralmente de um a três dias, com um máximo de nove dias. Após contacto com sangue ou tecidos infetados, de pessoas ou animais, o período de incubação é geralmente de cinco a seis dias.
O início dos sintomas é repentino, incluindo:
• Febre;
• Dor de cabeça;
• Mialgias (dores musculares);
• Tonturas;
• Dor/rigidez na nuca;
• Lombalgias (dores nas costas);
• Fotofobia (sensibilidade excessiva à luz).
Adicionalmente, os sintomas podem incluir:
• Náuseas;
• Vómitos;
• Diarreia;
• Dor abdominal;
• Dor de garganta.
A doença pode evoluir em poucos dias para formas mais graves, com confusão, agitação, delírio e insuficiência respiratória que requerem cuidados médicos imediatos.
Sem cuidados médicos, a doença pode causar a morte.
6. Como prevenir a doença?
As pessoas que exercem profissões que impliquem a exposição a animais devem usar equipamento de proteção individual inerente à atividade em animais.
As pessoas que realizem atividades na natureza, em zonas propícias ao risco de exposição a carraças, devem adotar um conjunto de medidas para evitar a picada de carraças, como:
• Utilizar roupas de cores claras para que as carraças possam ser vistas e removidas mais facilmente;
• Usar vestuário de mangas compridas, calças compridas e calçado fechado, com as pernas das calças enfiadas nas meias e a camisola por dentro das calças.
• Utilizar repelente no vestuário e proteção da pele com produtos que contenham DEET (N,N-dietil-m-toluamida).
• Em passeios no campo, se possível, caminhar pela zona central dos caminhos, para evitar o contato com a vegetação.
• Após atividades na natureza, deve procurar e remover carraças que possam estar no vestuário e calçado e ainda em diferentes localizações do corpo. Podem localizar-se em qualquer parte, incluindo couro cabeludo, pernas e braços, especialmente atrás dos joelhos e perto das axilas, umbigo, ouvidos e à volta do pavilhão auricular, ao redor da cintura.
7. O que fazer se for picado por uma carraça?
• Remova a carraça de imediato. A forma mais correta de remover uma carraça é usar um removedor de carraças ou uma pinça de pontas finas para agarrar suavemente a carraça o mais próximo possível da pele, sem a rodar e puxando para cima. Em alternativa pode prender a carraça entre o polegar e o indicador, utilizando papel, algodão ou tecido, para evitar o contacto direto das mãos com a carraça. Lave a pele com água e sabão em seguida. Aplique um creme anti-séptico na pele ao redor da picada.
• Se não souber como remover ou se não conseguir remover completamente a carraça, deve recorrer aos serviços de saúde para que seja retirada de forma adequada.
• Se possível preserve a carraça num pequeno recipiente para entregar nos serviços de saúde pública da unidade local de saúde, que, através da rede de Vigilância de Vetores (REVIVE), faz a caraterização da carraça e eventual deteção da presença de agentes patogénicos que a carraça possa conter. Também poderá tirar uma foto e partilhar com os mesmos serviços.
• Deve ficar atento ao aparecimento de sinais e sintomas (sintomas do tipo gripal ou erupção cutânea), devendo ligar para o SNS24, referindo que foi picado por uma carraça, para ser orientado para serviços de saúde com sinalização prévia.
8. Como tratar a FHCC?
Perante a suspeita de FHCC, procure cuidados médicos de imediato, para que seja garantida a assistência médica necessária e adequada à apresentação de sinais e sintomas. A terapia de suporte é a principal abordagem de tratamento da infeção. Alguns estudos de utilização de antivirais ainda estão em desenvolvimento e não são conclusivos.
9. Existe vacina para a FHCC?
Atualmente, nenhuma vacina está aprovada para uso humano, embora estejam em desenvolvimento várias vacinas candidatas.
Referências
• ECDC. Infectious Diseases Topics. Crimean-Congo haemorrhagic fever.
• INSA. Aproveite o ar livre, mas esteja atento às carraças.
• WHO. Crimean-Congo haemorrhagic fever. Key facts. 23 May 2022.