Direção-Geral da Saúde

Relatórios

Relatório Inquérito de Prevalência da Infecção 2003

A Infecção Nosocomial (IN) é definida como a ocorrência de infecção após o internamento no hospital, sem a evidência de que a infecção estivesse presente ou em incubação na altura da admissão. É, portanto, uma complicação da hospitalização, um efeito adverso dos cuidados de saúde. A IN constitui um problema mundial, com consequências importantes na morbilidade, na mortalidade e também nos custos tanto ao nível do hospital (por aumento do consumo dos recursos – tempo dos profissionais, antibióticos, exames complementares, readmissão, prolongamento da hospitalização, etc) como para os doentes e seus familiares (produtividade, deslocações para visita, etc.).

Ao longo das últimas décadas tem sido cada vez mais reforçado o papel da vigilância epidemiológica (VE) das IN a fim de identificar os doentes mais susceptíveis assim como as áreas de maior risco nos hospitais, permitindo medir a eficácia e eficiência dos esforços de intervenção, os recursos atribuídos e as prioridades nas práticas de prevenção da transmissão cruzada. Para além disso, os dados da vigilância podem detectar importantes mudanças ao longo do tempo e fornecer informação acerca de algumas práticas, tais como o uso de antibióticos, uso de dispositivos invasivos, entre outros. Muitos estudos demonstram que os dados podem contribuir para a redução das taxas de infecção.

A criação das Comissões de Controlo de Infecção para a prevenção e controlo da IN é, hoje em dia, um requisito legal em muitos países e, por isso, às instituições exige-se que desenvolvam recomendações e estratégias inseridas num programa global de controlo de infecção. Entre essas estratégias, inclui-se um sistema de VE contínua das IN através de registos locais e nacionais para monitorizar tendências e avaliar a eficácia dos programas de controlo de infecção na prática.

Nos EUA há uma longa tradição em VE, com a implementação do National Nosocomial Infections Surveillance (NNIS) desde 1970. Na Europa a situação é heterogénea, variando muito de país para país. Nalguns deles existe uma política bem estabelecida, abrangendo todo o território nacional, enquanto noutros as actividades não estão implantadas a nível nacional. Esta distribuição desigual pode ser explicada, pelo menos em parte, pelos seus custos e pela escassez dos recursos humanos disponíveis e também por alguma falta de sensibilidade política.

Os métodos actuais de VE da IN são os estudos de incidência e de prevalência. Os estudos de incidência medem o número de novos casos de IN ao longo do tempo (comparado com um filme) e são considerados o método padrão (“gold standard”). Os estudos de prevalência medem o número de doentes que tiveram uma infecção num único dia (prevalência de ponto) ou ao longo de alguns dias (prevalência de período), fornecendo uma fotografia da situação.

Os estudos de prevalência estão envolvidos em alguma controvérsia, por tenderem a sobrevalorizar a taxa de IN já que os doentes com estadias mais prolongadas no hospital têm maior probabilidade de serem incluídos no inquérito, para além do facto de os doentes mais graves permanecerem mais tempo no hospital e, por isso, serem mais susceptíveis de adquirirem uma infecção. Podem também ser afectados pelas variações sazonais e picos epidémicos. Têm, no entanto, a vantagem da rapidez, permitindo conhecer a dimensão do problema da infecção num dado momento, evitando as consequências económicas e práticas derivadas de inquéritos prolongados.

Nas últimas décadas, foram realizados estudos nacionais de prevalência de IN em muitos países europeus incluindo Portugal (1989 e 1993). Contudo, comparações inter-países são difíceis devido a diferenças metodológicas importantes como selecção dos hospitais participantes, critérios de inclusão, métodos de recolha de dados, definições das diversas infecções. Estas diferenças também não permitem a extrapolação dos resultados de um país específico a outro.

A falta de consenso nesta matéria levou à promoção de algumas iniciativas para atingir padrões na União Europeia. Baseado na necessidade comum de uniformizar metodologias o projecto HELICS III estabeleceu um grupo de trabalho encarregado de definir um protocolo de consenso que pudesse ser adoptado como método único em todos os países europeus de forma permitir a comparação entre países e instituições. O protocolo agora utilizado foi o resultado do trabalho desse grupo.

Há alguns anos que as Comissões de Controlo de Infecção (CCIs) dos hospitais portugueses vinham solicitando a realização de um estudo nacional já que, muitos deles, por limitação de recursos humanos, não tinham possibilidade de desenvolver um programa de VE contínuo. Assim, embora não fazendo parte do plano de acção do PNCI, em resposta às solicitações e porque a coordenadora do PNCI integrou o grupo de trabalho que produziu o protocolo europeu, foi decidido realizar o presente estudo com os objectivos delineados a seguir.

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